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Capítulo 4: Capítulo II

Página 146
Disse-me que, se éramos governados por representantes por nós eleitos, não podia perceber quem temíamos ou contra quem tínhamos de combater; perguntou-me se, na minha opinião, a casa de um cidadão não estaria melhor defendida por ele próprio, pelos filhos e pela família, do que por meia-dúzia de rufiões escolhidos ao acaso pelas ruas e com salário escasso e que podiam ganhar cem vezes mais degolando-nos.

Zombava dos meus cálculos de aritmética (esta a palavra que empregou) ao estabelecer o número de habitantes contando as diferentes seitas políticas e religiosas do país. Não compreendia por que se forçava a mudar os que defendiam opiniões prejudiciais ao bem público e, por outro lado, por que se não os obrigava a calarem-se. Exigir o primeiro é, em qualquer regime, um acto de tirania; não forçar o segundo seria debilidade. Pode tolerar-se que alguém guarde veneno em casa, mas não que o venda como remédio.

Indicou-me que mencionara o jogo como uma das distracções da nobreza. Desejava inteirar-se com que idade começava a ser praticado, quando era abandonado, quanto tempo lhe dedicavam e se chegava mesmo a afectar-lhes a fortuna. Não poderia acontecer que gente vil e corrupta conseguisse ganhar muito dinheiro graças à sua habilidade na batota, levando esses mesmos nobres à dependência e acostumando-os às más companhias? Se assim fosse, descurariam por completo a sua formação intelectual e, impelidos pelas perdas sofridas, aprenderiam e praticariam essa infame habilidade com outros.

Estava completamente estupefacto com o relato histórico que lhe fiz dos nossos assuntos no decurso do século passado. Confessou-me que não passava de uma série de conspirações, rebeliões, assassinatos, massacres, revoluções e desterros. E tudo isso efeito desastroso da nossa cobiça, partidarismo, hipocrisia, perfídia, crueldade, cólera, loucura, ódio, inveja, luxúria, maldade e ambição.

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pág. 146 (Capítulo 4)

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Capa do livro As Viagens de Gulliver
Páginas: 339
Página atual: 146

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Carta do Comandante Gulliver a seu primo Sympson 1
Prefácio do primeiro editor Richard Sympson 3
Capítulo I 8
Capítulo II 85
Capítulo III 170
Capítulo IV 249