Cada uma das faces dos cubos tinha preso um papel onde estavam escritas as palavras do léxico laputiense sem qualquer ordem, nos seus diversos modos, tempos ou casos. O mestre pediu-me que prestasse atenção porque ia pô-la em movimento. A uma ordem sua, cada um dos discípulos pôs a mão numa das quarenta manivelas de ferro colocadas nos dois flancos da geringonça e deu uma volta, de forma que a ordem das palavras sofreu uma mudança completa. Pediu então a trinta e seis dos alunos que lessem lentamente as diferentes linhas tal como apareciam no tabuleiro e, quando encontravam três ou quatro palavras que, justapostas, constituíam uma frase, ditavam-nas para os restantes quatro que actuavam como secretários. A operação repetiu-se três ou quatro vezes e, sempre que os cubos se moviam de um lado para o outro, apareciam novas palavras no tabuleiro a cada volta da manivela.
Os jovens discípulos dedicavam seis horas diárias a esta tarefa; e o professor mostrou-me diversos volumes, de grande formato, onde eram recolhidas frases desconexas que tinha a intenção de reformular. Com este rico material acumulado contava apresentar ao mundo um tratado científico ou filosófico. Apesar disso, todo este processo poder-se-ia acelerar se fosse criado um fundo público para se construírem quinhentas máquinas idênticas em Lagado, obrigando-se os utilizadores a contribuir com as diversas colecções para o acervo científico comum.
Confirmou-me que empregara naquele invento todos os pensamentos desde a sua juventude, que vazara todo o léxico nesta estrutura e que efectuara o mais rigoroso dos cálculos da proporção geral que existe nos compêndios entre o número de sílabas, substantivos, verbos e outras partes da oração.