mandou embora toda a criadagem com um movimento de um dedo. Com grande assombro meu todos se esfumaram num instante, como as visões num sonho interrompido bruscamente. Demorei uns momentos a recobrar ânimo, mas as palavras tranquilizadoras do governador e a atitude despreocupada dos meus companheiros, pois não era a primeira visita que faziam, voltaram a animar-me. Fiz a Sua Alteza um breve resumo das minhas aventuras, embora titubeando aqui e ali e voltando frequentemente a cabeça para o sítio onde tinham estado os fantasmagóricos serventes. Tive a honra de almoçar com o governador, altura em que um novo grupo de espectros serviu à mesa. Estava consciente de que o meu susto inicial diminuíra. Permaneci ali até ao entardecer mas depois desculpei-me com humildade ante Sua Alteza por não aceitar o convite para pernoitar no palácio. Fomos passar a noite, eu e os meus amigos, numa casa particular da cidade próxima, capital da pequena ilha; no dia seguinte, de manhã, regressámos ao palácio para prosseguirmos a visita, tal como nos fora pedido.
Os dez dias que permanecemos nesta ilha foram passados, durante o dia, em grande parte, no palácio e, à noite, nos nossos alojamentos. A presença dos espíritos tornou-se-me em breve tão familiar que, ao fim da terceira ou quarta vez, deixaram de me suscitar qualquer emoção; ou, pelo menos, a curiosidade sobrepunha-se ao temor. Sua Alteza o governador pôs-se completamente à minha disposição para evocar os defuntos que quisesse, qualquer que fosse o número, desde o princípio do mundo até à actualidade, ordenando-lhes que respondessem, fosse qual fosse a pergunta; uma condição impunha, porém: as minhas perguntas deviam cingir-se ao período em que os defuntos tinham vivido. E de uma coisa podia estar seguro: que nada mais diriam senão a verdade, pois a mentira é artimanha inútil no mundo do Além.