Para escolherem gente para trabalhos preocupam-se mais com os princípios morais do que com as capacidades. Porque, como a humanidade precisa de governo, têm a convicção de que o nível médio de conhecimentos humanos serve sempre para desempenhar algum papel na sociedade, e que a Providência nunca pretendeu converter a direcção dos assuntos públicos num mistério que pudesse ser compreendido apenas por uns tantos e sublimes génios, que são difíceis de encontrar numa mesma geração para além de três; mas supõem que a verdade, a justiça, a moderação e tantas outras virtudes estão ao alcance de todos. A prática destas virtudes, ajudada pela experiência e pela recta intenção, capacitaria qualquer homem para o serviço do seu país, excepto se se requeressem estudos. Mas eles opinavam que era tão difícil substituir a ausência de virtudes morais por determinadas faculdades mentais superiores, que as funções não podiam ser postas em mãos de pessoas tão altamente qualificadas, por serem demasiado perigosas. Pelo menos, os erros cometidos por ignorância, mas de boa-fé, nunca teriam tão fatais consequências para o bem-estar público como as acções de um homem a quem as suas inclinações conduziram corrupção, estando ele em posição de a dirigir, incrementar e defender.
De igual modo, o facto de não crer na Divina Providência desqualifica uma pessoa para o desempenho de um cargo público. Uma vez que os reis se consideram designados pela Providência, os liliputianos pensam que o mais absurdo que um príncipe poderia fazer seria empregar homens que contrariassem a autoridade sob a qual ele actua.
Ao relacionar estas e outras leis refiro-me tão-só às instituições originais e não à escandalosa corrupção em que esta gente caiu devido à degeneração da natureza humana.
