As Viagens de Gulliver - Cap. 3: Capítulo I Pág. 68 / 339

«Deveis saber disse que sobre o vosso caso celebraram-se recentemente várias reuniões secretas do Conselho e há apenas dois dias que Sua Majestade chegou a uma solução definitiva.

«Sabeis muito bem que Skyresh Bolgolam (galbet ou o almirante-em-chefe) tem sido, desde que chegastes, vosso mortal inimigo; desconheço os motivos reais de tal comportamento, mas desde a nossa grande vitória contra Blefuscu o seu ódio aumentou e o seu prestígio como almirante diminuiu consideravelmente. Este senhor, junto com Flimnap, o tesoureiro-mor cuja inimizade contra vós é notória por causa da esposa; Lintor, o general; Lalcon, o camareiro, e Balmuff, o magistrado supremo, redigiram uma nota de culpa contra vós, por traição e outros crimes capitais.»

Esta alegação encheu-me de impaciência. Quando ia interrompê-lo, consciente que estava dos meus méritos e inocência, pediu-me que guardasse silêncio e prosseguiu:

«Movido pela gratidão dos favores que me fizestes, procurei informação sobre todo o processo e obtive uma cópia do documento, com o que arrisco a cabeça para vos servir.

ACTA DE ACUSAÇÃO CONTRA «QUIMBUS FLESTRlN» (O HOMEM-MONTANHA)

«Artigo I. Que num decreto promulgado durante o reinado de Sua Majestade Imperial, Calin Deffar Plume dispõe que quem urine dentro do recinto do palácio real incorrerá no crime de alta traição; no entanto, o citado Quimbus Flestrin, desrespeitando abertamente a referida lei, com a desculpa de extinguir o fogo surgido nos aposentos da muita amada consorte de Sua Majestade, malévola, pérfida e diabolicamente descarregou ali a sua urina, apagando o fogo que tivera origem nos referidos aposentos, que se encontram no interior do referido palácio real, desrespeitando assim o decreto já promulgado, etc.; faltando a seu dever, etc;





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