As Viagens de Gulliver - Cap. 3: Capítulo I Pág. 82 / 339

Desdobrei toda a vela e, passada meia hora, viram-me; arvoraram então o seu pavilhão e dispararam um tiro de canhão. Não é fácil exprimir a alegria que senti ante a inesperada esperança de voltar a ver o meu amado país e os entes queridos que ali deixara. O barco recolheu as velas e eu abordei-o entre as cinco e as seis da tarde de 26 de Setembro. O coração deu-me um salto ao ver as cores inglesas. Pus as vacas e as ovelhas no bolso da casaca e subi a bordo com toda a minha pequena carga de provisões. Era um navio-mercante inglês que regressava do Japão pelos mares do Norte e do Sul. O seu comandante, o senhor John Biddel, de Deptford, era um homem muito cortês e um experimentado marinheiro. Encontrávamo-nos agora numa latitude de trinta graus para sul. O barco tinha uma tripulação de cerca de cinquenta homens; e, entre eles, encontrei um antigo companheiro, um tal Peter Williams, que me disse ser o comandante uma pessoa de bom trato. Este cavalheiro tratou-me com amabilidade e perguntou-me de onde viera e para onde me dirigia, ao que respondi com sobriedade de palavras; mas pensou que eu delirava e que os perigos por que passara me tinham transtornado. Tirei então do bolso as vacas e as ovelhas, o que lhe provocou um profundo assombro e o convenceu razoavelmente da veracidade das minhas palavras. Mostrei-lhe depois o ouro que me dera o imperador de Blefuscu, juntamente com o retrato de corpo inteiro de Sua Majestade e algumas outras curiosidades daquele país. Dei-lhe duas bolsas que continham duzentos sprungs cada uma e prometi-lhe que, ao chegar a Inglaterra, lhe ofereceria uma vaca e uma ovelha com as respectivas crias.

Não cansarei o leitor com um relato pormenorizado desta viagem que foi, na sua maior parte, muito feliz. Chegámos às Downs a 13 de Abril de 1702.





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