Como trazíamos içado no mastro da mezena o sinal a pedir socorro médico, o certo é que, ainda antes de o navio estar bem preso pelas amarras, já três lanchas a vapor pertencentes a diversos navios de guerra nos tinham chegado à borda e uns cinco médicos, pelo menos, trepavam para bordo. Ficaram em grupo, olhando o convés deserto da popa à proa, e depois, mais acima, a mastreação onde, também, não se via um só homem.
Eu dirigi-me a eles - forma humana solitária em pijama às riscas azuis e cinzentas, com um capacete de cortiça na cabeça. O desapontamento daqueles homens era completo. Estavam à espera de casos que necessitassem ~e uma intervenção cirúrgica. Todos tinham trazido os seus Instrumentos cortantes. Mas em breve venciam o seu desapontamente momentâneo. Em menos de cinco minutos, as lanchas iam a toda a velocidade de volta a terra para mandarem vir uma embarcação de maiores dimensões e pessoal de enfermagem para transporte da minha tripulação. A vedeta grande e a vapor regressou também ao navio a que pertencia, trazendo algumas dezenas de marinheiros para me ferrarem o pano.
Entretanto, um dos médicos ficara a bordo. Apareceu a descoberto com uma atitude circunspecta e encontrou o meu olhar interrogativo.
«Ninguém morreu, se sempre é isso o que o senhor deseja saber», disse-me com decisão. Depois acrescentou num tom de surpresa: «Toda a tripulação!».
«E estão muito mal, eles?»
«Estão mal, sim», repetiu o médico. Os seus olhos passeavam por todo o navio. «Meu Deus, aquilo o que vem a ser?»
«Aquilo», disse eu, olhando para ré, «aquilo é Burns, o imediato do navio.»
Burns, com a sua fronte de agonizante oscilante por cima da haste do seu pescoço magríssimo, era um quadro que arrancaria as exclamações estupefactas de qualquer um.
