.. - ao fim de talvez uns noventa dias de mar. Há sempre qualquer coisa de comovente num navio que vem do alto mar e fecha no seu repouso as asas brancas.
O que me foi a seguir dado ver foi a camada alta de cabelo cor de prata que encimava um rosto avermelhado e liso, que se diria apopléctico não fosse respirar ao mesmo tempo tanta frescura.
Mas este vice-Neptuno não usava barba, nem tinha escondido a um canto, como se se tratasse de um guarda-chuva, tridente algum. Segurava na mão uma caneta uma caneta oficial, muito mais poderosa que uma espada no fazer e desfazer o destino dos homens que simplesmente viviam do seu trabalho. Estava agora a observar por cima do ombro a minha marcha em direcção a ele. Quando cheguei claramente ao seu alcance, dirigiu-me um cumprimento irritante:
«Onde é que esteve este tempo todo?»
Como achei que isso não era da conta dele, ignorei por completo o seu mo. Respondi-lhe com simplicidade que me constara ser preciso um capitão para um navio, e que sendo eu oficial de navios de vela, pensara poder solicitar...
Ele não me permitiu continuar. «Como? Pois claro! É você o homem indicado para esse lugar... - embora sejam mais de vinte os que o queriam ocupar. Mas não há que ter medo disso. Todos temem ser apanhados. É aí que o ponto bate.»
O comandante parecia-me muito irritado, e eu disse-lhe então com a maior das inocências: «Têm medo de ser apanhados, comandante? Não compreendo como».
«Porquê?», retorquiu ele, furibundo. «Têm medo da vela. Têm medo de uma tripulação de brancos. Dá muita maçada. Muito trabalho. Cá por fora há sempre muito tempo. A vida fácil e as cadeiras do convés, isso é que eles querem todos. E eu para aqui estou, com o cabograma do cônsul geral à minha frente, e consigo, o único homem em condições para o posto, sem se poder encontrá-lo em parte nenhuma.
