«Não, claro que não», assenti, enquanto reprimia o desejo de me rir daquela seriedade um pouco misteriosa com que o capitão me ia expondo as conclusões da sua experiência da vida, como se estas fossem o resultado de não sei que interditos processos. «O tipo parece-me é um bocado louco. Deve ser, com certeza.»
«Quanto a isso, julgo que todos os seres humanos deste mundo são um pouco loucos», retorquiu ele, sempre judicioso, com a maior serenidade.
«Como? O senhor não admite excepções?», perguntei-lhe, só para ver o que ele arranjaria para me responder.
O capitão ficou um momento calado, depois declarou de modo muitíssimo positivo:
. «Ora, vamos lá! Sabe que até do senhor o capitão Kent diz o mesmo.»
«Ah, sim, diz?», respondi eu, com acentuado mau-humor, sentindo-o nascer em mim contra o meu antigo capitão, num impulso instantâneo. «Não é isso o que se pode ler no atestado que ele me passou e que trago aqui no bolso. Mas contou-lhe, por acaso, alguns episódios dessa minha loucura, ele?»
O capitão Giles explicou-me, procurando falar num tom de conciliação, que se tratara apenas de uma referencia amigável à minha brusca partida do navio, sem qualquer motivo de justificação aparente.
Então, limitei-me a resmungar em voz baixa e aborrecida: «Oh! Isso da minha saída do navio», e apressei o passo.