A Linha de Sombra - Cap. 4: II Pág. 52 / 155

Saltando da cadeira, durante muito tempo passeei no quarto, para um lado e para outro. Mas ao entrar na sala de jantar consegui manter a compostura necessária. Não me foi, no entanto, possível comer o que quer que fosse.

Depois de declarar a minha intenção de não ir de carro, mas a pé, até ao cais, devo reconhecer, para lhe fazer justiça, que o pobre despenseiro se apressou a reunir alguns coolies para me levarem a bagagem. Vi-os partir, levando tudo o que era meu neste mundo (à excepção do pouco dinheiro que tinha no bolso), pendurado por uma corda numa longa vara. O capitão Giles ofereceu-se, à saída, para me fazer companhia.

Caminhávamos pela avenida escura e carregada de sombras que atravessa a esplanada. Aí, debaixo das árvores, sentia-se uma certa frescura. O capitão Giles observou, com um súbito riso: «Eu é que sei quem se sente muito aliviado de o ver pelas costas».

Pensei que se estaria a referir ao despenseiro. O tipo, de facto, estivera junto a mim até ao último instante com modos ressentidos e de medo. Expressei assim a minha surpresa pelo facto de ele me ter tentado pregar uma partida, sem ter a mínima razão para isso.

«O senhor não percebe que ele queria ver-se livre do nosso amigo Hamilton, fazendo com que fosse ele, em vez de si, a apanhar o lugar? Isso permitia-lhe ver-se livre dele de uma vez para sempre, vê?»

«Deus dos céus!», exclamei eu, sentindo-me bastante humilhado ao mesmo tempo. «Não será impossível? Que estúpido ele me saiu! O vadio arrogante desse outro! Como? Não era possível que... Mas a verdade, sim, é que foi por pouco, já que a capitania tinha que mandar alguém, de qualquer maneira.»

«É isso mesmo. Um idiota como o despenseiro pode tornar-se, em certas situações, bastante perigoso», disse-me o capitão Giles, um tanto ou quanto sentencioso.





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