Burns suspirou, fitou-me curioso, como se dissesse: «E agora, não te vais embora?», e a seguir desviou do novo para o antigo capitão os seus pensamentos, pois que este último, morto como estava, perdera a sua autoridade, não se metia no caminho de mais ninguém, e era um caso muito mais fácil de resolver.
Burns alargou-se um pouco mais acerca deste personagem. Era um homem muito especial - tinha cerca de sessenta e cinco anos -, cabelo grisalho, feições endurecidas, temperamento obstinado e nada comunicativo. Habitualmente trazia o navio à boa vida pelo mar fora, por motivos que ninguém sabia quais poderiam ser. À noite, certas vezes, subia até ao tombadilho, mandava reduzir um pouco o pano - só Deus saberá porquê ou para quê; depois, voltava a descer, fechava-se no seu camarote e punha-se a tocar violino durante horas e horas... Algumas vezes, sem dúvida, até nascer o dia. A verdade é que passava a maior parte do seu tempo, dia e noite, a tocar violino. Isto, quando aquela ideia louca lhe dava. Porque, além de tudo, tocava muito alto.
As coisas chegaram a tal ponto que Burns, um dia, fazendo apelo a toda a sua coragem, se queixou disso ao próprio capitão. Nem ele nem o segundo piloto conseguira pregar olho durante os respectivos quartos de folga por causa daquela música toda.