Lembrei ao imediato que aquilo que eu pretendia de facto saber era onde o seu antigo capitão fora sepultado.
Burns disse-me que fora à entrada do golfo. Uma sepultura à larga; tratava-se de uma resposta mais do que suficiente. Mas o imediato, guardando visivelmente alguma coisa dentro de si - algo que parecia uma estranha relutância em dar crédito efectivo à minha chegada ao barco (um facto irrevogável, bem vistas as coisas) - não ficou por tão pouco... embora, para falar verdade, fosse o que desejava fazer.
Suponho que para dar satisfação aos sentimentos que o dominavam, parecia dirigir-se com insistência à calha do leme, de tal modo que me dava a impressão de um homem a falar sozinho, de forma um tanto ou quanto inconsciente.
Segundo a sua narrativa, às três e meia da tarde, batidas pela sineta, durante o quarto que var do meio-dia às quatro, ele próprio mandara formar toda a tripulação na coberta, dizendo aos homens que seria melhor descerem à câmara para prestarem uma última despedida ao capitão.
Como se fossem ditas a contragosto para um Intruso, estas palavras bastaram-me para evocar aquela estranha cerimónia: os marinheiros descalços, cabeça descoberta, chegando em grupo à câmara, numa pequena multidão apertada contra o aparador, mais incomodada que comovida, camisas abertas sobre o peito tisnado pelo sol, caras curtidas pelo tempo, todos eles de olhos cravados no moribundo e com a mesma expressão de gravidade e expectativa.
«Ele ainda estava lúcido?», perguntei.
«Não dizia nada, mas movia os olhos na direcção dos homens», respondeu o imediato.
Após alguns instantes de espera, deu à tripulação sinal para sair da camara, ordenando que ficassem apenas dois dos mais velhos do barco, a acompanhar o capitão, enquanto ele próprio se encaminhara para o tombadilho com o sextante para «tomar a meridiana».