Apesar de tudo estivemos sempre a andar. Do lado da proa parece que estamos um pouco mais perto de terra.»
Era exactamente assim. Um pouco mais perto. A verdade é que bastava termos tido um pedaço mais de vento para podermos estar, para estarmos frente ao cabo Liant àquela mesma hora, ganhando entretanto uma distância maior em relação àquelas malditas praias. E não era apenas a distância. Eu tinha a impressão de que uma boa brisa levaria, ao soprar, a epidemia que se prendera ao navio. Porque era claro que se prendera ao navio. Dois homens. Um a arder em febre e outro a tremer de frio. Senti uma repugnância clara em ir vê-los. Para quê? Veneno é veneno. A febre dos trópicos é simplesmente a febre dos trópicos. Mas que tivesse lançado as suas garras no nosso encalço por sobre as águas do mar, tratava-se manifestamente de um abuso traiçoeiro e fora do vulgar. Era-me difícil crer que se pudesse tratar de coisa pior do que um último desesperado ataque do mal de que nos íamos livrando no hálito puro do mar. Se ao menos se tivesse tornado um pouco mais intenso, esse hálito! Entretanto, havia o quinino contra a febre palustre. Fui preparar duas doses ao camarote de reserva, onde se tinha montado a farmácia. Como se fosse um tabernáculo miraculoso, abri-o, cheio de fé. A parte de cima estava cheia de uma colecção de frascos, todos eles baixos e semelhantes entre si como ervilhas. Por baixo dessa formação disciplinada, havia duas gavetas cheias de muitas coisas, tudo o que é possível imaginar: embrulhos de papel, ligaduras, caixas de papelão oficialmente rotuladas. Das duas, a que estava por baixo encerrava, numa das suas divisórias, a nossa provisão de quinino.
Encontrei lá dentro cinco frascos redondos e todos eles com as mesmas dimensões.