Um esquecimento tão perfeito que não sabia onde estava quando acordei. Seguiu-se o imenso alívio trazido pela ideia: «A bordo do meu navio! no mar! no mar!...».
O meu olhar pousava através das vigias num horizonte raso, incendiado pelo sol. Era o horizonte de um dia sem vento. Mas a sua enorme dimensão bastava por si só para me inocular uma impressão de felicidade sem peias, uma alegria triunfante de libertação.
Com o coração mais leve do que nunca, desde há muitos dias, saí em direcção à câmara dos oficiais. Ao lado do aparador, vi Ransome preparando-se para pôr a mesa para o primeiro jantar no mar daquela viagem. Ao voltar para mim a cabeça, qualquer coisa nos seus olhos fez-me reprimir o meu humilde bem-estar.
Perguntei-lhe instintivamente: «Alguma novidade?», não esperando, nem de longe, a resposta que ele me ia dar. Fê-lo com uma espécie de serenidade contida que lhe era peculiar:
«Parece que não deixámos todas as doenças em terra, comandante.»
«Não deixámos? Que se passar»
Ele contou-me que dois homens da tripulação se tinham visto atacados de febre maligna durante a noite. Um deles parecia arder, o outro tremia de frio, mas na sua opinião, o mal de ambos era o mesmo, nem mais nem menos. Foi isso também o que me pareceu. Senti-me perturbado com a informação. «Um a escaldar de febre e o outro com arrepios de frio, foi o que você disse? Bem, assim não deixámos realmente a doença em terra. E eles parecem muito mal?»
«Normalmente mal, comandante.» Os olhos de Ransome encontraram-se com os meus. Sorríamos. O sorriso dele era como habitualmente um pouco pensativo; o meu devia ser, sem dúvida, suficientemente preocupante, de acordo com o meu estado de espírito exasperado.
Perguntei-lhe:
«Houve vento esta manhã?»
«Nem por isso, comandante.