A Linha de Sombra - Cap. 6: IV Pág. 94 / 155

Havia um que estava cheio a cerca de um terço. Os quatro restantes estavam ainda selados e dentro do papel dos seus embrulhos. O que eu não esperava, porém, encontrar por cima da boca dos frascos era um envelope. Um envelope quadrado cujo papel vinha do depósito do navio, não podia haver a mais pequena dúvida.

Tinha sido ali posto de tal modo que verifiquei logo que não tinha sido fechado e, ao pegar-lhe, quando o virei, vi que me era endereçado. Continha meia folha de papel de bloco de notas que desdobrei com a estranha impressão de estar a tactear o desconhecido, mas sem a menor excitação, como alguém que descobre e faz coisas extraordinárias durante um sonho.

«Meu caro comandante», assim era o começo; mas eu procurei com os olhos a assinatura. O autor era o médico. Estava datada do dia em que eu, ao regressar da minha visita ao hospital onde estava Burns, descobrira o bom médico à minha espera na câmara, tendo-me ele dito então que ocupara o tempo a passar em revista a farmácia do barco. Que história tão estranha! Enquanto esperava por mim de um momento para o outro, entretivera-se a escrever-me uma carta, que ao ver-me depois entrar se apressara a meter à força na gaveta da farmácia. Tratava-se de um procedimento mais ou menos inacreditável. Sem perceber nada, voltei ao texto.

Numa letra grande e apressada, mas legível, aquele homem bondoso e simpático, por qualquer motivo, por amabilidade ou, mais presumivelmente, arrastado pelo desejo irreprimível de manifestar a sua opinião, com a qual não quisera, no entanto, desanimar antecipadamente as minhas esperanças, avisava-me de que não confiasse nos resultados salutares de uma mudança de terra para o mar. «Não quis aumentar as suas preocupações, ou tirar-lhe as esperanças», escrevera ele.





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