E o capitão MacWhirr escrevia para casa das costas da China doze vezes por ano, desejando absurdamente ser «lembrado pelos filhos» e assinando-se «teu marido que te ama» tao calmamente como se as palavras durante tanto tempo usadas por tantos homens fossem, com exclusão da sua forma, coisas completamente gastas e de um significado desbotado.
Os mares da China a norte e a sul são mares estreitos.
São mares cheios de eloquentes factos quotidianos como ilhas, bancos de areia, baixios, correntes rápidas e instáveis - factos entrelaçados que todavia falam ao marinheiro numa linguagem clara e definida. O seu falar atraía tão energicamente o sentimento das realidades do capitão MacWhirr que ele abandonara o seu camarote confortável lá em baixo e passava praticamente todos os seus dias na ponte do navio, mandando frequentemente subir as suas refeições e dormindo à noite na casa de navegação. E escrevia aí as suas cartas para casa. Todas elas, sem excepção, continham a frase «Tivemos muito bom tempo nesta viagem» ou qualquer outra no mesmo sentido. E esta frase, também, na sua maravilhosa persistência, era tão rigorosamente exacta corno todas as outras que as cartas continham.
O senhor Rout também escrevia cartas; somente ninguém a bordo sabia quão tagarela ele se podia tomar de caneta em punho porque o primeiro-maquinista tinha imaginação suficiente para fechar a sua secretária. A mulher apreciava grandemente o seu estilo. Eram um casal sem filhos, e a senhora Rout, um mulherão de quarenta anos, jovial e de seios opulentos, partilhava com a veneranda e desdentada mãe do senhor Rout urna pequena vivenda perto de Teddington. Ela percorria a correspondência, ao pequeno-almoço, com olhos animados, e gritava as passagens mais interessantes numa voz jovial para a velha senhora surda, precedendo cada extracto do grito de advertência «Salomão diz!».
