Tufão - Cap. 1: I Pág. 14 / 103

Ela tinha também o costume de disparar as sentenças de Salomão sobre as visitas, surpreendendo-as facilmente com o texto desconhecido e com o tom inesperadamente chistoso dessas citações. No dia em que o' novo pároco a foi visitar pela primeira vez, ela teve ocasião de observar: «Como Salomão diz: os maquinistas que embarcam nos navios contemplam as maravilhas da natureza marítima», quando uma mudança na expressão do visitante a fez parar e pôr-se a olhá-lo fixamente.

- Salomão... Oh!... senhora Rout - gaguejou o jovem, com a face muito corada -, devo dizer que... eu não...

- É o meu marido - anunciou ela num grande grito, atirando-se para o fundo da cadeira. Tendo percebido a piada resultante do equívoco, ela desatou a rir imoderadamente, com um lenço encostado aos olhos, enquanto ele arvorava um sorriso forçado e, dada a sua inexperiência de mulheres joviais, se convencia para além de qualquer dúvida de que ela devia ser deploravelmente louca. Tomaram-se excelentes amigos mais tarde; porque, absolvendo-a de qualquer intenção irreverente, ele acabou por convencer-se de que ela era de facto uma pessoa muito digna; e habituou-se com o tempo a ouvir sem vacilar outros fragmentos da sabedoria de Salomão.

- Pela minha parte - dissera uma vez Salomão, conforme sua mulher costumava referir -, antes quero ter por capitão o maior dos burros que um malandro. Com um tipo estúpido sempre há maneira de lidar; mas o malandro é esperto e escorregadio.

Isto era urna generalização superficial extraída do caso particular da probidade do capitão MacWhirr, que, em si própria, tinha a pesada evidência de um pedaço de barro. Por outro lado, o senhor Jukes, incapaz de generalizar, solteiro e sem noiva, tinha o hábito de abrir o coração noutros termos a um velho amigo e antigo camarada de bordo, servindo actualmente como imediato num paquete transatlântico.





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