Era breve e continha esta notícia: «Tivemos muito bom tempo durante a viagem». Mas sem dúvida, no espírito do autor da carta, a única informação importante era a de que o seu capitão, no próprio dia em que ele estava a escrever, o tinha inscrito no caderno de bordo como grumete. «Porque eu sei fazer o trabalho», explicava ele. A mãe voltou a chorar copiosamente, enquanto a observação «O Tom é um burro» exprimia as emoções do pai. Este era um homem corpulento, com uma tendência para a zombaria, que até ao fim da vida exerceu no seu trato com o filho, um tanto compassivamente, como se estivesse a lidar com um pateta.
As visitas de MacWhirr a casa eram necessariamente raras, e com o decorrer dos anos ele expediu outras cartas para os pais informando-os das suas sucessivas promoções e dos seus movimentos sobre a vasta Terra. Nessas missivas encontravam-se frases como esta: «O calor aqui é muito grande.. Ou: «No Dia de Natal às 4 da tarde encontrámos alguns icebergues.» Os velhotes por fim foram-se familiarizando com um bom número de nomes de navios, e com os nomes dos capitães que os comandavam - com os nomes de armadores escoceses e ingleses - com os nomes de mares, oceanos, estreitos, promontórios - com nomes exóticos de portos onde iam carregar madeira, onde iam carregar arroz, onde iam carregar algodão - com o nome de ilhas - com o nome da jovem esposa do filho. Chamava-se Lucy. Não ocorreu ao espírito de MacWhirr dizer se achava o nome bonito. E depois os pais morreram.
O grande dia do casamento de MacWhirr veio na altura devida, pouco depois do grande dia em que ele obteve o seu primeiro comando.
Todos estes acontecimentos tinham tido lugar muitos anos antes da manhã em que, na casa de navegação do vapor Nan-Shan, o capitão deparou com a descida de um barómetro de que não tinha qualquer motivo para desconfiar.
