- Oh! sim! O raio do sombreiro... Obrigado, Jukes, obrigado - murmurava o capitão MacWhirr, cordialmente, sem erguer os olhos.
Tendo apenas a imaginação necessária para o fazer cobrir cada dia sucessivamente, e não mais, era um homem tranquilamente seguro de si próprio; e por e:ssa mesmíssima causa não era minimamente pretensioso. E o comandante imaginativo que é susceptível, autoritário e difícil de satisfazer; mas todos os navios que o capitão MacWhirr comandava eram o domicílio flutuante da harmonia e da paz. Na verdade, era-lhe tão impossível ter um arroubo de fantasia como seria para um relojoeiro montar um cronómetro dispondo apenas de um martelo de duas libras e de uma serra braçal a servirem-lhe de ferramentas. Contudo, as vidas desinteressantes dos homens tão inteiramente entregues à realidade da trivial existência têm o seu lado misterioso. Era impossível, no caso do capitão MacWhirr, por exemplo, compreender o que debaixo dos céus poderia ter induzido esse filho perfeitamente satisfatório de um pequeno merceeiro de Belfast a fugir para o mar. E contudo fora isso mesmo que ele fizera com a idade de quinze anos. Era o bastante, quando se pensava no caso, para nos dar a ideia de uma imensa, potente e invisível mão mergulhada no formigueiro da Terra, agarrando ombros, fazendo chocar as cabeças e voltando as faces inconscientes da multidão para objectivos inconcebíveis e direcções nunca sonhadas.
O pai nunca lhe perdoou completamente esta estúpida falta aos seus deveres. «Nós podíamos passar sem ele», costumava o pai dizer mais tarde, «mas havia o negócio. E ainda por cima filho único!- A mãe chorou muito depois do seu desaparecimento. Como nunca passara pela cabeça do rapaz deixar um bilhete, foi chorado por morto até que, passados oito meses, a sua primeira carta chegou de Talcahuano.
