“Não, não!” berrou a Rainha. “Primeiro a sentença, depois o veredicto.”
“Besteira, bobagem!” disse Alice em voz alta. “Onde já se viu a sentença antes do veredicto?”
“Dobre sua língua!” disse a Rainha, enrubescendo de raiva.
“Não dobro, não!” retrucou Alice.
“Cortem-lhe a cabeça!” gritou a Rainha com o máximo de sua voz. Ninguém se moveu.
“Quem se importa com você?” disse Alice (ela acabara de crescer até o seu tamanho normal). “Vocês não passam de um maço de cartas!”
Naquele momento, todo o baralho voou pelos ares e começou a cair em sua direção: Alice deu um gritinho, meio de susto, meio de raiva, e tentou abatê-los, mas... quando deu por si, estava deitada no barranco com a cabeça no colo de sua irmã, a qual delicadamente afastava algumas folhas secas que tinham caído sobre seu rosto.
“Acorde, Alice querida!” disse sua irmã. “Que sono pesado você teve!”
“Ah, eu tive um sonho tão esquisito!” disse Alice. E começou a contar à irmã, tanto quanto podia recordar, todas essas estranhas aventuras que vocês acabaram de ler. Quando acabou, sua irmã a beijou e disse: “Foi um sonho curioso, com certeza, minha querida; mas agora corra para tomar seu chá: já está ficando tarde!” Então Alice levantou-se e saiu correndo, pensando, enquanto isso, que sonho maravilhoso tinha sido aquele.
Mas sua irmã continuou onde estava, com a cabeça apoiada na mão, admirando o pôr-do-sol e pensando na pequena Alice e em todas as suas maravilhosas aventuras. Até que ela mesma começou a sonhar, a seu modo, e foi este o sonho:
Primeiro, sonhou com a pequena Alice: mais uma vez suas mãozinhas delgadas abraçavam-se ao joelho, e seus olhos vívidos e brilhantes a fixavam; podia até ouvir os tons de sua voz e ver aquele gesto singular que sempre faz com a cabeça para manter atrás as mechas de cabelo que teimavam em cair sobre seus olhos...