145 
Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho  
Destemperada e a voz enrouquecida,  
E não do canto, mas de ver que venho  
Cantar a gente surda e endurecida.  
O favor com que mais se acende o engenho  
Não no dá a pátria, não, que está metida  
No gosto da cobiça e na rudeza  
Düa austera, apagada e vil tristeza.
 
 
146 
E não sei por que influxo de Destino  
Não tem um ledo orgulho e geral gosto,  
Que os ânimos levanta de contino  
A ter pera trabalhos ledo o rosto. 
Por isso vós, ó Rei, que por divino  
Conselho estais no régio sólio posto,  
Olhai que sois (e vede as outras gentes)  
Senhor só de vassalos excelentes.