em que íamos, e assentamos em vir ver por nossos olhos o que tanto nos tinha consternado quando o ouvimos; e em paga desta paixão e do desejo que em nós outros nasceu de remediarmos o que pudéssemos, te rogamos, ó discreto Ambrósio (ao menos eu to suplico da minha parte) que, deixando de abrasar estes papéis, me consintas levar alguns deles.
Sem esperar resposta do pastor, estendeu a mão, e tomou alguns dos que mais perto lhe estavam.
Vendo aquilo Ambrósio, disse:
— Por cortesia, senhor meu, consentirei que fiqueis com os que tomastes; mas cuidardes que hão-de deixar de arder os que restam é pensamento vão.
Vivaldo, que desejava ver o que os papéis rezavam, abriu logo um deles, e viu que tinha por título:
Canção desesperada.
Ouviu Ambrósio, e disse:
— Esse é o último papel que o sem-ventura escreveu; e para que vejais, senhor, o extremo em que o tinham as suas desgraças, lede-o de modo que sejais ouvido; bem vos dará tempo a demora de se abrir a sepultura.
— Da melhor vontade o farei — respondeu Vivaldo. E como todos os circunstantes tinham o mesmo desejo, puseram-se-lhe em derredor, e ele, lendo em voz clara, viu que falava assim: