ermas praias a humano trato alheias, ou por onde jamais se enxergue dia, ou pela seca Líbia, onde se cria venenosa ralé de pragas feias;
que inda que nesses páramos sem termo ninguém me escute os ais do peito enfermo, nem ouça o teu rigor tão sem segundo, por privilégio de meus curtos fados serão levados aos confins do mundo.
São veneno os desdéns; uma suspeita, ou verdadeira ou falsa, desespera; e os zelos matam com rigor mais forte.
Ausência larga à morte nos sujeita; contra um temer olvido não se espera remédio no esperar ditosa sorte.
No fundo disso tudo há certa a morte; mas eu (milagre nunca visto!) vivo zeloso, ausente, desdenhado, e certo das suspeitas a que anda o peito aberto, e do olvido em que o fogo em dobro avivo.
E entre tanto tormento, ao meu desejo nem uma luz de alívio ao longe vejo, nem já sequer fingi-la em mim procuro; antes, para requinte de querela, estar sem ela eternamente juro.
Pode-se juntamente, porventura, esperar e temer? e onde os temores têm mais razão que a esp’rança, há-de esperar-se?
Debalde os olhos furto à sina escura; pelas feridas d’alma os seus negrores não cessam um momento de mostrar-se.
Quem pode à desconfiança recusar-se, quando tão claramente se estão vendo os desdéns e os motivos de suspeitas? Ai verdades em fábulas desfeitas! ai câmbio infausto, lastimoso horrendo!
Ó do reino de amor eros tiranos zelos! dai-me um punhal; desdéns insanos, um baraço! um baraço! ai sorte crua celebras tua última vitória; não há memória atroz igual à tua.