Um dos guardas de cavalo respondeu que eram galeotes (gente pertencente a Sua Majestade) que iam para as galés; e que não havia que dizer, nem ele que perguntar.
— Apesar disso — replicou D. Quixote — queria saber de cada um deles em particular a causa da sua desgraça.
A estes ditos ajuntou mais outros tais e tão descomedidos para resolvê-los a declararem-lhe o que desejava, que o outro guarda montado lhe disse:
— Ainda que levamos aqui o registro e a fé das sentenças de cada um destes desgraçados, não temos tempo que perder a apresentar papéis e fazer leituras. Chegue Vossa Mercê a eles, e interrogue-os se quer; que eles, se for sua vontade, lho dirão; pois é gente que põe gosto em fazer e assoalhar velhacarias.
Com esta licença, que D. Quixote por si tomaria, ainda que lha não dessem, chegou-se à leva, e perguntou ao primeiro por que mau pecado ia ali daquela maneira tão desastrada. Respondeu ele que por enamorado.
— Só por isso e mais nada? — replicou D. Quixote — Se por coisas de namoro se vai para as galés, há muito tempo que eu as pudera andar remando.
— Não são namoros, como Vossa Mercê cuida — disse o forçado; — o meu namoro foi com uma canastra de roupa branca, que a abracei comigo tão fortemente, que, se a justiça ma não tira por força, ainda agora por vontade minha não a tinha largado. Fui apanhado em flagrante, excusaram-se tratos, e concluída a causa, assentaram-me nas costas um cento de estouros, e por crescenças três anos de gurapas; e acabou-se a obra.
— Que vem a ser gurapas? — perguntou D. Quixote.
— Gurapas são galés — respondeu o forçado, que era um rapaz que poderia contar os seus vinte e quatro anos e disse ser natural de Piedraíta.
Igual pergunta fez D. Quixote ao segundo.