O homem lhe respondeu:
— As mais estranhas que desde muito tempo se lá tem ouvido, porque se conta publicamente, que Lotário, aquele grande amigo do rico Anselmo, que morava a S. João, fugiu esta noite com Camila, mulher do referido Anselmo, do qual também se não sabe por haver desaparecido: tudo isto foi dito por uma criada de Camila, que a passada noite foi achada pelo governador a escapar-se de casa de Anselmo, descendo de uma janela para a rua por meio de uns lençóis, presos à mesma janela: na verdade não sei pontualmente como o negócio se passou, somente sei que toda a cidade está admirada com este sucesso, porque não se podia esperar semelhante desfecho da amizade dos dois, a qual era tanta, que ordinariamente eram chamados os dois amigos.
Aqui perguntou Anselmo:
— E sabe-se o caminho que levaram Lotário e Camila?
— Nem por pensamento — respondeu o cavaleiro — apesar de haver o governador empregado a maior diligência em procurá-los.
— Adeus, e com Ele ide — disse Anselmo.
— E com Ele fiqueis — respondeu o caminhante, continuando o seu caminho.
Com tão desastradas notícias, Anselmo chegou aos termos não só quase de perder o juízo, mas até quase de perder a vida. Levantou-se conforme pôde, e chegou a casa do seu amigo, que nada sabia do seu infortúnio; porém, como este o visse chegar amarelo, seco e consumido, entendeu que de algum grande mal vinha possuído. Pediu logo Anselmo que lhe dessem um aposento onde descansasse, e juntamente tudo o necessário para poder escrever. Assim se fez. e o deixaram no aposento só e à sua vontade porque assim o desejou ele e também que lhe cerrassem a porta.
Quando se viu só, começou a sua imaginação a carregá-lo tanto com a lembrança da sua desgraça, que claramente