ela quer por esta noite aceitar a nossa companhia, que com a melhor vontade lhe oferecemos, assim como também lugar no aposento, em que havemos de repousar, e onde lhe procuraremos todas as comodidades possíveis, pois é dever nosso obsequiar os estrangeiros, sobretudo sendo eles do nosso sexo.
— Por ela e por mim vos beijo, senhora, as mãos, e em muito aprecio a mercê que tendes a bondade de fazer, a qual não pode deixar de ser mui grande sendo feita em tal ocasião e por pessoas tais como tudo me está indicando que vós sois.
— Dizei-me, senhor — perguntou Dorotéia — esta senhora é cristã ou é moura? O seu trajo e o seu silêncio nos levam a pensar que ela não é o que nós desejáramos que fosse.
— Moura é no trajo e no corpo — respondeu o cativo — porém na alma é já uma verdadeira cristã, porque tem ardentíssimos desejos de o ser.
— Logo ainda não é batizada? — replicou Lucinda.
— Não teve ainda ocasião oportuna de batizar-se — disse o cativo — desde que saiu de Argel, sua terra, e, como até agora não correu algum risco a sua vida, entendi poder dilatar-lhe o batismo até que estivesse bem instruída do que ele é, e das cerimônias que manda praticar a nossa santa madre Igreja; espero, porém, que Deus será servido de que ela dentro de breve tempo se batize com a decência devida à qualidade da sua pessoa, a qual é superior ao que mostra o seu vestuário e o meu.
Com estas razões acendeu o cativo em todos quantos o escutavam uma grande curiosidade e veementíssimo desejo de saberem quem ele era, e quem era a moura, mas nenhum lho quis perguntar por então, atendendo a que era mais própria aquela hora para o descanso, que para ouvir a história da vida dos dois. Dorotéia tomou pela mão a desconhecida e a fez assentar