Achando-se ali o renegado, demos-lhe a ler o papel dentro do nosso rancho, e ele nos disse que era este o seu teor: “Eu não sei, meu senhor, como pôr em ordem a nossa partida para Espanha, nem Lella Maryem mo há revelado, posto que lho tenha eu perguntado: o que se poderá fazer é que eu vos darei por esta janela muito dinheiro em ouro: resgatai-vos com ele, e igualmente dos vossos amigos vá um a terra de cristãos, compre lá uma barca, e venha buscar os outros, e quanto a mim encontrar-me-á no jardim que nos pertence, o qual está à porta do Bab-Azoun junto à marinha, onde tenho de passar todo este verão com meu pai e com os criados: dali me podereis tirar de noite sem medo nenhum e levar-me à barca.
“E olha que hás-de ser meu marido, quando não eu pedirei a Maryem que te castigue.
“Se não tens em quem confies para ir buscar a barca, resgata-te tu e parte, que eu sei que voltarás mais depressa que qualquer outro, porque és cavalheiro e cristão.
“Procura saber onde é o jardim, e quando passeares por aí, ficarei sabendo que o Banho está só, e então te darei muito dinheiro.
Alá te guarde, meu senhor.” Era isto o que dizia e continha o segundo papel, e sabido por todos, cada um se ofereceu para ser resgatado, e prometeu ir e voltar sem demora, e também eu me ofereci para a mesma empresa: a tudo porém se opôs o renegado, dizendo que de nenhum modo consentiria que um se pusesse em liberdade sem que fossem todos juntos, porque lhe tinha mostrado a experiência quanto mal cumpriam os livres a palavra que davam no cativeiro, porquanto muitas vezes se tinham servido do mesmo meio alguns cativos principais, resgatando um que fosse a Valência ou a Malorca com o dinheiro necessário para armar um navio e vir buscar os que o haviam resgatado, e contudo nunca mais voltava, porque a liberdade alcançada e o medo de tornar a perdê-la lhe apagava da memória todas as abnegações do mundo.