E vendo o cura que tinha sido tão bem sucedido em seu intento, o que tanto desejava o capitão, não quis tê-los tristes por mais tempo, e, levantando-se da mesa, e entrando aonde estava Zoraida, tomou-a pela mão, e vieram após ela Lucinda, Dorotéia e a filha do ouvidor. Estava o capitão observando o que o cura queria fazer, mas este, tomando-o também pela mão, levou-os ambos para onde estava o ouvidor e os demais cavaleiros, e disse então:
— Cessem, senhor ouvidor, as vossas lágrimas, e satisfaça-se quanto possa desejar o vosso coração, pois tendes aqui vosso bom irmão e vossa boa cunhada: este que aqui vedes é o capitão Viedma, e esta é a formosa moura que tanto bem lhe fez: os franceses, em que vos falei, puseram-nos no triste estado em que os vedes para mostrardes a vossa generosa liberalidade.
Correu o capitão a abraçar seu irmão, e este pôs-lhe as mãos no peito para a mais distância o reconhecer melhor, e quando se convenceu de que era ele, tão estreitamente o abraçou, derramando copiosas lágrimas, que nelas o acompanharam todos os que ali se achavam. As palavras que se trocaram entre os dois irmãos, os sentimentos que eles mostravam, creio que mal se podem conceber, quanto mais descrevê-los. Ali contaram uns aos outros os seus sucessos, ali mostraram a verdadeira amizade de irmãos, ali o ouvidor abraçou Zoraida, ali lhe ofereceu os seus bens, ali a fez abraçar por sua filha, ali a formosa cristã e a moura formosíssima renovaram as lágrimas de todos.
Ali D. Quixote, sem proferir palavra, prestara a maior atenção a estes estranhos sucessos, os quais todos atribuía às quimeras da cavalaria andante. Ali combinaram que o capitão e Zoraida voltassem com seu irmão para Sevilha, e dessem parte ao pai da sua liberdade