— Juro pelo Deus Onipotente — acudiu D. Quixote — que bateu no ponto a vossa grandeza, e que alguma visão má se pôs diante deste pecador de Sancho, que lhe fez ver o que seria impossível verse de outro modo que não fosse por encantamento, que eu bem sei, pela bondade e inocência deste desgraçado, que não sabe levantar testemunhos a ninguém.
— Assim é e assim será — disse D. Fernando — pelo que deve Vossa Mercê, senhor D. Quixote, perdoar-lhe e reduzi-lo ao grêmio da sua graça, sicut erat in principio, antes que as tais visões lhe ourassem o juízo.
D. Quixote respondeu que lhe perdoava, e o cura foi buscar Sancho, que veio muito humilde e, pondo-se de joelhos, pediu a mão a seu amo, e este deu-lha, e, depois de lha ter deixado beijar, deitou-lhe a bênção, dizendo:
— Agora acabarás de conhecer, Sancho filho, que todas as coisas deste castelo são feitas por via de encantamento.
— Assim creio — disse Sancho — exceto o caso do mantear, que esse, realmente, sucedeu por via ordinária.
— Não creias — respondeu D. Quixote — que, se assim fosse, eu te vingaria então e ainda agora; mas nem então pude, nem agora vi pessoa de quem tirasse vingança do teu agravo.
Desejaram saber todos o que era isso de mantear, e o vendeiro lhes contou por