Chegaram os diligentes a par dos preguiçosos, e cumprimentaram-se cortesmente; e um deles, que era cônego de Toledo e amo dos outros que o acompanhavam, ao ver a concertada procissão do carro, quadrilheiros, Sancho, Rocinante, o cura e o barbeiro, D. Quixote engaiolado e preso, não pôde deixar de perguntar o que queria dizer levarem aquele homem daquele modo, ainda que já percebera, ao ver as insígnias dos quadrilheiros, que devia de ser algum salteador facínora, ou outro delinquente, cujo castigo tocasse à Santa Irmandade.
Um dos quadrilheiros, a quem foi feita a pergunta, respondeu:
— Senhor, o que significa ir este cavaleiro deste modo, ele que o diga, porque nós não sabemos.
— Por fortuna serão Vossas Mercês, senhores cavaleiros — exclamou logo D. Quixote — versados e peritos nisto de cavalaria andante? Porque, se o são, eu lhes comunicarei as minhas desgraças, e, se o não são, não há motivo para que me canse a dizê-las.
A este tempo, já tinham chegado o cura e o barbeiro, vendo que os viandantes estavam em prática com D. Quixote de la Mancha, para responderem de modo que o seu artifício se não descobrisse.
O cônego, ao que D. Quixote perguntou, respondeu:
— Em boa verdade posso dizer-vos que sei mais de livros de cavalaria do que das Súmulas de Villalpando, de forma que se não está em mais do que isso, podeis seguramente comunicar-me o que quiserdes.
— Louvado seja Deus — redarguiu D. Quixote — pois, sendo assim, quero que saibais, senhor cavaleiro, que vou encantado nesta jaula, por inveja e fraude de maus encantadores, porque a virtude mais é perseguida pelos maus, do que amada pelos bons. Cavaleiro andante sou, e não daqueles, de cujo nome nunca a fama se recordou para os eternizar, mas dos