Ficou pasmado D. Quixote, absorto Sancho, suspenso o guia, atônito o pajem, aparvalhado o do zurro, confuso o vendeiro e finalmente espantados todos os que ouviram as razões do homem dos títeres, que prosseguiu dizendo:
— E tu, ó bom Sancho Pança, o melhor dos escudeiros do melhor dos cavaleiros do mundo, alegra-te, que a tua mulher Teresa vai de saúde e a estas horas está ela fiando na sua roca, e por sinal tem à esquerda um canjirão, cheio de boa pinga, com que se entretém no seu trabalho.
— Isso acredito eu — respondeu Sancho — porque ela é uma bem-aventurada e, se não fosse ciumenta, não a trocaria pela própria giganta Andanhona que, segundo diz meu amo, foi mulher de prol; e a minha Teresa é daquelas que não se deixam passar mal, ainda que seja à custa dos seus herdeiros.
— Agora digo eu — interrompeu D. Quixote — que quem lê muito e viaja muito, muito vê e muito sabe. Digo isto, porque ninguém seria capaz de persuadir-me que houvesse macacos no mundo que adivinham como agora vi com os meus olhos; porque sou, efetivamente, o D. Quixote de la Mancha, que esse bom animal disse, ainda que exagerou um pouco os meus louvores; mas, seja eu quem for, dou graças ao céu, que me dotou de um ânimo brando e compassivo, inclinado sempre a fazer bem a todos e mal a ninguém.
— Se eu tivesse dinheiro — disse o pajem — perguntaria ao senhor macaco o que me há-de suceder nesta peregrinação que eu levo.
A isso respondeu mestre Pedro, que acabara de se levantar:
— Já disse que este animalejo a respeito do futuro não responde coisa alguma, que, se respondesse, não importaria que não tivesse dinheiro, que, por serviço do senhor D.