Sucedeu, pois, que a uns cristãos já libertos, que vinham da Barbaria, comprou aquele macaco, a quem ensinou o saltar-lhe para o ombro, em ele lhe fazendo certos sinais, e o murmurar-lhe ou o fingir que lhe murmurava ao ouvido. Feito isto, antes de entrar em qualquer sítio com o seu retábulo e o seu macaco, informava-se no lugar mais próximo, ou com quem podia, a respeito de quaisquer particularidades que houvessem acontecido no tal sítio, ou das pessoas que lá estivessem; e, levando essas informações bem de memória, a primeira coisa que fazia era mostrar o seu retábulo, em que representava diversas histórias, mas todas alegres, divertidas e conhecidas; acabado o espetáculo, propunha as habilidades do macaco, dizendo ao povo que adivinhava o passado e o presente, mas que do futuro nada sabia.
Pela resposta a cada pergunta pedia dois reais, e às vezes levava mais barato, conforme tomava o pulso aos perguntadores; e quando chegava a casas, onde morava gente a quem tinham sucedido coisas que ele sabia, ainda que nada lhe perguntassem, para lhe não pagarem, fazia sinal ao macaco, e logo bradava que ele lhe dissera tais e tais coisas, que vinham de molde com o acontecido. Assim alcançava crédito e andavam todos atrás dele: outras vezes, como era muito discreto, respondia de modo que as respostas se acomodassem às perguntas, e como ninguém o apertava para ele dizer como era que o macaco adivinhava, a todos burlava, e ia enchendo as algibeiras. Logo que entrou na venda, reconheceu D. Quixote e Sancho, e esse reconhecimento tornou-lhe fácil causar-lhes a ambos grande admiração, e a todos os que estavam na venda; mas esteve para lhe sair cara a brincadeira, se D. Quixote abaixasse mais a mão, e lhe destruísse toda a sua cavalaria, como fica dito no antecedente capítulo.