— Não sei lá disso — respondeu Sancho — o que sei apenas é que, se a senhora Magalhães ou Magalona se contentou com esta garupa, é porque não tinha as carnes muito tenras.
Todas estas práticas dos dois valentes eram ouvidas pelo duque e pela duquesa, e por todos os do jardim, que se divertiam com isso extraordinariamente; e querendo dar remate à estranha e bem fabricada aventura, pelo rabo de Clavilenho deitaram fogo com umas estopas a bombas e foguetes, de que o cavalo estava cheio, e o cavalo voou pelos ares com estranho ruído, e deu com D. Quixote e Sancho Pança no chão, meio chamuscados. A este tempo já desaparecera do jardim todo o barbado esquadrão das donas, e a Trifaldi e tudo, e os de casa estavam como que desmaiados e estendidos no chão. D. Quixote e Sancho levantaram-se bastante magoados, e olhando para todas as bandas, ficaram atônitos de se ver no mesmo jardim donde tinham partido, e de ver estendida no chão tanta gente; mas ainda aumentou mais o seu pasmo, quando viram a um lado do jardim uma lança pregada no chão, e suspenso dela, por dois cordões de seda verde, um pergaminho liso e branco, onde, com grandes letras de ouro, estava escrito o seguinte:
“O ínclito cavaleiro D. Quixote pôs termo e remate à aventura da condessa Trifaldi, por outro nome chamada a Dona Dolorida, só com o intentá-la.
“Malambruno dá-se por contente e satisfeito, e as caras das donas ficam lisas e tosquiadas, e os reis D. Clavijo e Antonomásia no seu prisco estado; e quando se cumprir o compromisso escudeiril, a branca pomba ver-se-á livre dos pestíferos gerifaltes que a perseguem, e nos braços do seu querido arrulhador, que assim está determinado pelo sábio Merlin, o protonigromante dos nigromantes.” Tendo D. Quixote lido