de mandar pedir bolotas a uma lavradeira, mas às vezes mandava pedir pentes às vizinhas, porque hão-de saber Vossas Mercês que as senhoras de Aragão, apesar de serem tão principais, não são de tantas etiquetas e de tantos orgulhos como as senhoras castelhanas: tratam toda a gente com muito mais lhaneza.
Quando estavam com estas práticas, veio Sanchita com uma arregaçada de ovos e perguntou ao pajem:
— Diga-me, senhor: meu senhor pai usa calças atacadas desde que é governador?
— Nunca reparei — respondeu o pajem — mas é provável que sim.
— Ai, Deus meu! — replicou Sanchita — muito gostava eu de ver meu pai de calções! Desde que nasci que tenho esse desejo.
— Com essas coisas e com muitas outras o verá Vossa Mercê, se Deus lhe der vida — tornou o pajem.
Bem perceberam o cura e o bacharel que o pajem falava ironicamente; mas a finura dos corais e o fato de caça que Sancho enviava desfaziam todas as suposições; riram do desejo de Sanchita e ainda mais quando Teresa disse:
— Senhor cura, deite pregão, a ver se há por aí alguém que vá a Madrid ou a Toledo, para que me compre uma saia redonda e bem feita, e à moda das melhores saias que houver; porque, na verdade, tenho de honrar o governo de meu marido, tanto quanto possa; e, se me zango, vou a essa corte deitar coche como todas; quem tem marido governador pode muito bem ter coche e sustentá-lo.
— Ó mãe — disse Sanchita — prouvera a Deus que antes fosse hoje do que amanhã pela manhã, ainda que os que me vissem sentada num coche, ao lado de minha senhora mãe, dissessem: “Olhem para aquela tola, filha de um comilão de alhos, como vai sentada e estendida naquele coche, como se fosse uma papisa!” Mas elas que se danem, e ande eu no meu coche, com os pés levantados do chão.