Fez Sancho o que lhe disse Ricote, e, falando este com os outros peregrinos, apartaram-se para a alameda, muito desviada da estrada real. Deitaram para o lado os bordões, despiram as esclavinas, e Sancho viu que todos eram moços e mui gentis-homens, exceto Ricote, já entrado em anos. Todos traziam alforjes bem fornecidos, pelo menos de coisas que chamam a sede a duas léguas de distância. Estenderam-se no chão, e, fazendo toalha da relva, puseram-lhe em cima pão, sal, facas, nozes, fatias de queijo, e ossos de presunto, que, se não se deixavam trincar, não se eximiam a ser chupados. Puseram também um manjar negro, que dizem que se chama caviar, e é feito de ovas de peixe, grande despertador da sede; não faltaram azeitonas, ainda que secas e sem tempero algum, mas saborosas e bem conservadas; porém, o que mais campeou naquele banquete, foram seis garrafas de vinho, que tirou cada um a sua do seu alforje: até o bom Ricote, que se transformara de mourisco em alemão ou tudesco, tirou também a sua, que, em grandeza, podia competir com as outras cinco. Principiaram a comer com muito gosto e muito devagar, saboreando cada bocado que tiravam com a ponta da faca, e logo, todos à uma, levantaram os braços e as garrafas, e, pondo à boca os gargalos, com os olhos cravados no céu, não parecia senão que era para lá que apontavam; e, deste modo, meneando as cabeças para um lado e para outro, sinais que mostravam bem o gosto que lhes dava o beber, estiveram um bom pedaço, transvazando para os seus estômagos as entranhas das vasilhas.