Pasmaram todos, e nenhum se atreveu a dizer uma palavra: tanta era a obediência que lhe tinham.
Afastou-se Roque para o lado e escreveu uma carta a um seu amigo de Barcelona, avisando-o de que estava com ele o famoso D. Quixote de la Mancha, aquele cavaleiro andante de quem tantas coisas se diziam; e que lhe fazia saber que era o mais engraçado e mais entendido homem do mundo: que daí a quatro dias, dia de S. João Batista, iria pôr-se no meio da praça da cidade, armado com todas as armas, montado no seu cavalo Rocinante, acompanhado pelo seu escudeiro Sancho, montado num burro, e que desse notícia disto aos Niarros seus amigos, para que com ele se divertissem; que ele desejaria que não se regalassem também com isto os Cadeils seus contrários, mas que era impossível evitá-lo, porque as loucuras e discrições de D. Quixote, e os donaires do seu escudeiro Sancho Pança não podiam deixar de servir de passatempo geral a toda a gente.
Despachou esta carta por um dos seus escudeiros, que mudando o trajo de bandoleiro no de lavrador, partiu para Barcelona.