E como as mulheres, de ordinário, são curiosas e amigas de saber, a primeira que se chegou foi uma das duas amigas da esposa de D. António, e perguntou-lhe:
— Diz-me, cabeça: que hei-de fazer para ser formosa?
E respondeu-lhe a cabeça:
— Ser honesta.
— Não te pergunto mais nada — disse a perguntadora.
Chegou-se logo a companheira e prosseguiu:
— Diz-me, cabeça, se meu marido me quer bem ou não.
— Vê o que ele te faz — respondeu a cabeça — e logo o saberás.
Afastou-se a casada, dizendo:
— Para receber esta resposta, não valia a pena perguntar nada, porque, efetivamente, pelas obras se revela a vontade de quem as pratica.
Chegou em seguida um dos dois amigos de D. António e perguntou-lhe:
— Quem sou eu?
— Tu bem o sabes.
— Não te pergunto isso — respondeu o cavalheiro — mas quero que me digas se me conheces.
— Conheço, sim, és D. Pedro Noriz.
— Não quero saber mais nada; já vejo, cabeça, que tudo sabes.
E, afastando-se, deu lugar ao outro amigo, que lhe perguntou:
— Diz-me, cabeça: que desejos tem o meu filho morgado?
Tornou ela:
— Não julgo de desejos; mas, com tudo isso, posso dizer que o que teu filho quer é enterrar-te.
— Isso — acudiu o cavaleiro — vejo com os meus olhos; e nada mais pergunto.
Chegou-se a mulher de D. António e disse:
— Não sei, cabeça, o que te hei-de perguntar; mas só queria que me dissesses se gozarei muitos anos o meu bom marido.
— Gozarás, sim, porque a sua saúde e a sua temperança prometem largos anos de vida, que muitos costumam encurtar com os seus excessos.
Chegou-se em seguida D. Quixote e perguntou:
— Diz-me tu, ó ente que respondes: foi verdade, ou foi sonho, o que eu conto que passei na cova de Montesinos? Serão