Não é altura de nos preocuparmos com ninharias. Pense no bilhete de Mycroft, no Almirantado, no Governo, na excelsa pessoa que aguarda notícias. Temos de avançar.
Respondi, levantando-me da mesa:
- Tem razão, Holmes. Não há escolha. Holmes ergueu-se e apertou-me a mão.
- Eu sabia que você não hesitaria - disse-me.
Por um momento vi nos seus olhos algo tão perto da ternura como nunca vira. Logo, porém, voltou a ser o Holmes dominador e pragmático.
- São uns oitocentos metros, quase, mas não há pressa. Vamos andando. Por favor, não deixe cair a ferramenta. A sua prisão como indivíduo suspeito seria o pior que nos poderia acontecer.
Caulfield Gardens era um desses renques de casas com pórticos de colunas típicos de meados da época vitoriana, no West End de Londres. Da porta contígua vinha o que parecia ser o ruído de uma festa de crianças, a julgar pela exuberância de vozes infantis e pelas notas de um piano ecoando na noite. O nevoeiro continuava denso e protegia-nos com a sua sombra amigável. Holmes acendera a lanterna, que apontava à porta espessa.
- Isto é complicado - disse. - Está com certeza trancada. O melhor é entrarmos pela porta de serviço. Há ali em baixo um túnel muito a propósito para o caso de algum polícia zeloso se meter. Dê-me a mão, Watson, que eu farei o mesmo para si.
Um momento depois encontrávamo-nos no pátio. Mal havíamos atingido as sombras, ouvimos os passos de um polícia no nevoeiro. Logo que os passos morreram, Holmes procurou abrir a porta dos baixos. Vi-o, curvado, a esforçar-se até que, com um estalido, a porta se abriu. Penetrámos no corredor escuro e fechámos a porta atrás de nós. Holmes subiu à frente a escada atapetada e curva.