A AVENTURA DO CÍRCULO VERMELHO 1
- Bem, Mrs. Warren, não vejo que tenha algum motivo especial de inquietação nem compreendo a que propósito eu, cujo tempo é de algum modo precioso, deva interferir no assunto. Tenho realmente outras coisas em que pensar.
Assim falou Sherlock Holmes antes de se debruçar de novo sobre o grande álbum no qual dispunha e classificava material recente.
Mas a mulher possuía a obstinação e também a astúcia do seu sexo. Não desistiu.
- O senhor resolveu o caso de um inquilino meu, ano passado - disse. - Mr. Fairdale Hobbs.
- Ah, sim. Uma questão simples.
- Mas ele não se cansa de falar nela... na sua amabilidade, sir, e no modo como o senhor iluminou a escuridão. Lembrei-me das palavras dele, ao ver-me também desorientada e às escuras. Se alguém é capaz, esse alguém é o senhor.
Holmes era sensível à lisonja e também, faça-se-lhe justiça, à simpatia. As duas forças levaram-no a pousar o pincel da cola com um suspiro de resignação e a puxar a cadeira.
- Bem, Mrs, Warren, vamos lá então ouvir a história. Não se importa que fume, espero? Obrigado, Watson... os fósforos! A senhora está, portanto, preocupada pelo facto de o seu novo inquilino se fechar no quarto e não o poder ver. Mas porquê, Mrs, Warren, porquê? Se eu fosse seu inquilino, a senhora passaria semanas a fio sem me pôr a vista em cima.
- Acredito, sir, mas isto é diferente. Assusta-me, Mr. Holmes. Não durmo com medo. Ouvir os passos dele, rápidos, de um lado para o outro, desde o amanhecer até noite alta e nunca o ver nem de relance... é superior às minhas forças. O meu marido anda tão nervoso como eu, mas passa o dia fora, a trabalhar; eu é que estou todo o dia em casa! De que se esconderá ele? Que terá feito? Tirando a rapariga, estou sozinha em casa com ele e os meus nervos já não aguentam mais.