- Cá estamos, Watson... deve ser esta.
Abriu-a e, ao fazê-lo, ouvimos um murmúrio áspero que a pouco e pouco se transformou num ruído agressivo quando um comboio passou a alta velocidade na escuridão. Holmes percorreu com a luz o parapeito, coberto com uma espessa camada de fuligem das máquinas que passavam. Porém, a superfície negra apresentava marcas em certos pontos.
- Vê onde pousaram o corpo, Watson? Até que enfim! Olá! Que é isto? Uma marca de sangue, sem dúvida. - Apontava para manchas descoloridas na madeira. - E no chão também as há. Não precisamos de mais provas. Vamos esperar que um comboio pare.
Não tivemos de esperar muito, O primeiro comboio que saiu trovejando do túnel abrandou e, com o ruído característico dos freios, parou mesmo por baixo de nós. Entre o parapeito da janela e o tejadilho ia menos de metro e meio, Holmes fechou devagar a janela.
- Até aqui acertámos - disse ele. - Que lhe parece, Watson?
- Uma obra-prima. A sua maior obra de arte.
- Não concordo. A partir do momento em que concebi a ideia de o corpo ter sido lançado sobre o tejadilho da carruagem (ideia plausível, convenhamos), o resto era inevitável. Se não fossem os graves interesses envolvidos, o caso, até este ponto, seria insignificante. Ainda não nos defrontamos com as dificuldades. Mas talvez possamos encontrar aqui algo que nos ajude.
Subimos a escada da cozinha e chagámos ao primeiro andar. A primeira divisão era uma sala de jantar, mobilada com austeridade e sem nada de interesse. A seguir havia um quarto de cama, igualmente sem nada de interessante. O último aposento parecia mais prometedor, e o meu companheiro dispôs-se a examiná-lo cuidadosamente.