«Então que seja Watson», respondeu ele. Venha imediatamente, sir, senão já o não encontra vivo!
Fiquei horrorizado, pois nada sabia da doença de Holmes. Escusado será dizer que peguei logo no casaco e no chapéu. Pelo caminho, fui pedindo pormenores.
- Pouco lhe posso dizer, sir. Tem andado a trabalhar num caso em Rotherhithe, num beco perto do rio, e trouxe de lá a doença. Meteu-se à cama na tarde de quarta-feira e nunca mais de lá saiu. Nestes três dias não tem ido nada àquela boca!
- Meu Deus! Por que não chamou um médico?
- Ele não me deixava, sir. Sabe como é teimoso. Não me atrevi a desobedecer-lhe. Mas ele está por pouco. Verá logo que entre.
Holmes oferecia, na verdade, uma deplorável visão. À luz mortiça de um dia de Novembro envolto em nevoeiro, o quarto do doente era um local fantasmagórico, mas foi o rosto mirrado chupado, a fitar-me da cama que me fez arrepiar o coração. Os olhos de Holmes possuíam o brilho da febre e nas faces havia o rubor dos tuberculosos; os seus lábios estavam cobertos de crostas negras; as suas mãos, pousadas sobre o lençol, tremiam sem cessar; a sua voz era espasmódica e rouca. Não se mexeu quando entrei, mas, ao ver-me, o brilho dos olhos acusou o reconhecimento.
- Dias temíveis estes, Watson - disse em voz fraca, porém com algo da sua habitual despreocupação.
- Meu caro amigo! - exclamei, aproximando-me.
- Para trás! Para trás! - ordenou com a irrespondível autoridade que só lhe conhecia em momentos de crise. - Se se aproximar, Watson, terei de o mandar sair.
- Mas porquê?
- Porque eu quero! Isso não basta?
Sim, Mrs. Hudson tinha razão. Estava mais teimoso e imperioso do que nunca. Era, todavia, de cortar o coração vê-lo tão exausto.