A Última Aventura de Sherlock Holmes - Cap. 6: A AVENTURA DO DETECTIVE MORIBUNDO Pág. 123 / 210

- Eu só pretendo ajudar - expliquei.

- Exactamente! Ajudar-me-á melhor fazendo o que eu lhe disser.

- Com certeza, Holmes.

Adoçou o mau modo.

- Não está zangado? - perguntou, arfando.

Pobre diabo! Como poderia eu zangar-me, vendo-o em tal estado perante mim?

- É no seu interesse, Watson - rouquejou.

- No meu interesse?

- Sei o que tenho. É uma doença dos cules de Samatra... uma , coisa acerca da qual os Holandeses sabem mais do que nós, embora pouco tenham apurado até à data. Só há uma certeza. É sempre mortal e horrivelmente contagiosa.

Falava com uma energia febril, as mãos longas tremendo ao afastar-me da cama.

- Contagiosa por simples contacto, Watson... Sim, por simples contacto. Mantenha-se à distância e não haverá problema.

- Meu Deus, Holmes! Você pensa que isso tem para mim alguma importância? Pois se o contágio me deixa indiferente com um estranho, você imagina que me vai impedir de cumprir o meu dever para com um velho amigo?

Fiz novamente menção de me aproximar, mas ele repeliu-me com uns olhos cheios de fúria.

- Se ficar aí, eu falo. Caso contrário, terá de sair do quarto!

Tenho um respeito tão profundo pelas extraordinárias qualidades de Holmes que sempre atendi os seus desejos, mesmo quando não os entendia, Naquele momento, porém, o meu instinto profissional impunha-se. Que ele mandasse em mim em todas as circunstâncias, salvo no seu quarto de doente; ali mandaria eu!

- Holmes - disse-lhe -, você não sabe o que diz. Um homem doente é como uma criança e como criança o tratarei. Quer queira quer não, vou examinar os seus sintomas e tratá-lo.

Fitou-me com olhos virulentos.

- Se tenho de ser visto por um médico, mesmo contra a minha vontade que seja ao menos alguém em quem eu confio!

- Não confia então em mim?

- Na sua amizade, sem dúvida.





Os capítulos deste livro