Von Bork regressou em passo lento ao gabinete já os últimos raios dos faróis se tinham perdido na distância. Reparou que a sua velha governanta havia apagado o candeeiro e fora deitar-se. Eram para ele uma experiência nova o silêncio e a escuridão da sua grande casa, depois de ali ter vivido com tantos familiares e criados. Contudo, sentia alívio ao pensar que todos estavam em segurança e, tirando a velha que se arrastava pela cozinha, tinha só para si toda a residência. Muito trabalho o esperava no gabinete. Dedicou-se a ele até sentir o rosto esbelto e insinuante afogueado dos papéis a arder. Ao lado da mesa havia uma mala de couro. Começou a guardar nela com todo o cuidado e metodicamente o precioso conteúdo do cofre. Porém, mal começara o trabalho, o seu ouvido apurado surpreendeu o ruído de um carro distante. Soltou de imediato uma exclamação de júbilo, fechou a mala e o cofre, este à chave, e correu ao terraço. As luzes de um pequeno automóvel apagavam-se junto ao portão. Um passageiro apeou-se e avançou rapidamente para ele, enquanto o motorista, homem idoso e robusto de bigode grisalho, se preparava, resignado, para uma longa espera.
- Então? - perguntou Von Bork, ansioso, correndo ao encontro do visitante.
Como resposta, o homem acenou, triunfante, com um pequeno embrulho de papel pardo por sobre a cabeça.
- Bem me pode felicitar esta noite, mister! - exclamou. - Finalmente trago-lhe o tesouro!
- O código?
- Como lhe disse no telegrama. Tudo! Semáforos, sinais de lanternas, Marconi... Uma cópia, claro, não o original. Era perigoso de mais. Mas é autêntico, pode confiar.
Deu uma palmada no ombro do alemão, com uma rude familiaridade a que o outro pestanejou.