Quê?
Tokay?
Apontava uma garrafa selada e coberta de pó, numa salva, com dois copos altos.
- Posso oferecer-lhe um copo antes de sair?
- Não, obrigado. Mas parece que vai haver uma festa!
- Altamont tem muito bom gosto em matéria de vinhos e adora o meu Tokay. É um tipo sensível e há que fazer-lhe algumas pequenas vontades. Tenho de o apaparicar, sabe... - Haviam saído de novo para o terraço, que percorreram até ao extremo mais afastado, onde, a um toque do motorista do barão, o grande automóvel estremeceu, ronronando. - São as luzes de Harvich, creio - disse o secretário, vestindo o guarda-pó. - Como tudo parece tranquilo, pacífico! Dentro de uma semana haverá mais luzes e a costa inglesa será um local menos sossegado! E os céus também não deverão estar lá mui to calmos, se tudo o que o bom Zeppelin nos promete for verdade. Ouça... quem é aquela?
Só uma janela se encontrava iluminada, atrás deles; havia um candeeiro e, a seu lado, sentada à mesa, uma mulher de idade, com um belo rosto corado, de touca na cabeça. Fazia malha, interrompendo-se ocasionalmente para acariciar um grande gato preto em cima de um banco.
- É Martha, a única criada que ficou.
O secretário riu por entre dentes.
- Dir-se-ia a personificação da Grã-Bretanha, completamente absorvida no trabalho e com aquele ar de confortável sonolência... Bem, au revoir, Von Bork!
Com um gesto final de despedida, entrou no automóvel e, um momento depois os dois cones dourados dos faróis romperam a escuridão. O secretário recostou-se nas almofadas da luxuosa viatura tão absorto na iminente tragédia europeia que mal se apercebeu de que, quando o seu carro entrou na rua da aldeia, quase ia trucidando um pequeno Ford que rolava na direcção oposta.
