O Regresso de Sherlock Holmes - Cap. 1: A Aventura da Casa Vazia Pág. 10 / 363

»Levantei-me e examinei a parede rochosa atrás de mim. No seu pitoresco relato do caso, que li com grande interesse alguns meses mais tarde, você afirma que a rocha era lisa. Isso não é literalmente verdade. Tinha alguns possíveis pontos de apoio e até uma ligeira saliência. O penhasco é tão alto que trepar até ,acima era uma impossibilidade óbvia, mas era igualmente impossível tomar o carreiro molhado sem deixar marcas. É certo que podia ter posto as botas ao contrário, como já fiz em ocasiões semelhantes, mas três séries de pegadas numa direcção sugeririam certamente um embuste. Assim, tudo visto, era melhor eu arriscar a escalada. Não foi nada agradável, Watson. As águas rugiam lá em baixo. Não sou uma pessoa dada a fantasias, mas dou-lhe a minha palavra de honra de que me parecia ouvir a voz de Moriarty a gritar-me do abismo. Um erro teria sido fatal. Mais de uma vez, quando tufos de ervas me ficavam nas mãos ou o meu pé escorregava nas pequenas saliências molhadas da rocha pensei que estava condenado. Mas fui subindo penosamente e, por fim, cheguei a uma saliência relativamente larga e coberta de musgo verde e macio onde me podia deitar, sem poder ser visto, no mais perfeito conforto. Estava eu ali deitado, quando você meu caro Watson, e todos os outros, investigaram da forma mais compadecida e ineficiente as circunstâncias da minha morte.

»Finalmente, quando você e os outros chegaram à vossa inevitável e totalmente errónea conclusão e regressaram ao hotel, fiquei sozinho. Pensara que chegara ao fim das minhas aventuras, mas uma ocorrência absolutamente inesperada mostrou-me que ainda me estavam reservadas algumas surpresas. Uma enorme rocha, caindo de cima, passou ruidosamente por mim, bateu no carreiro e saltou para o abismo.





Os capítulos deste livro