Havia algo da benevolência de Mr. Pickwick na sua maneira, maculada apenas pela insinceridade do sorriso fixo e pelo brilho dum dos olhos penetrantes e incansáveis. A sua voz era suave e agradável como as suas feições, e avançou para nós com a mão estendida, murmurando ter tido pena de não nos ter encontrado aquando da sua primeira visita. Holmes ignorou a mão estendida e olhou para ele com um rosto granítico. O sorriso de Milverton alargou-se, depois encolheu os ombros e tirou o sobretudo, dobrando-o com gestos deliberados e pousando-os nas costas de uma cadeira, sentando-se em seguida.
- Este cavalheiro – disse, fazendo um gesto na minha direcção. – É discreto? É correcto?
- O Dr. Watson é meu amigo e sócio.
- Muito bem, Sr. Holmes. Apenas estou a defender os interesses da sua cliente. A questão é tão delicada…
- O Dr. Watson já a conhece.
- Então, podemos tratar do negócio. O senhor diz estar a representar Lady Eva. Ela deu-lhe poderes para aceitar as minhas condições?
- Quais são as suas condições?
- Sete mil libras.
-E a alternativa?
- Meu caro senhor, é-me desagradável discuti-la mas, se o dinheiro não me for pago até ao dia 14, decerto não haverá casamento no dia 18. - O seu insuportável sorriso era mais complacente que nunca.
Holmes pensou durante uns instantes.
- O senhor parece-me estar a tomar o assunto como assente disse, finalmente. - É evidente que tenho conhecimento do conteúdo dessas cartas. A minha cliente fará, sem dúvida, o que eu lhe aconselhar. Aconselhá-la-ei a contar ao seu futuro marido toda a história e a confiar na sua generosidade.
Milverton riu baixinho.
- É evidente que não conhece o conde - disse ele.
Pela expressão intrigada no rosto de Holmes, vi claramente que não conhecia.