- Que mal é que as cartas têm? - perguntou.
- São muito vivas, muito vivas - respondeu Milverton. - A senhora era uma encantadora correspondente. Mas garanto-lhe que o conde de Dovercourt não as apreciaria de forma alguma. No entanto, como pensa o contrário. deixemos a questão ficar como está. É simplesmente uma questão de negócios. Se pensa que melhor defende os interesses da sua cliente se estas cartas chegarem às mãos do conde, então seria sem dúvida idiota em pagar uma quantia tão elevada para as recuperar. - Levantou-se e pegou no sobretudo de astracã.
Holmes estava macilento de ira e mortificação.
- Espere um pouco - disse. - Está a ir depressa de mais. Certamente que faremos todos os esforços para evitar o escândalo num caso tão delicado como este.
Milverton voltou a sentar-se.
- Eu tinha a certeza de que o senhor veria as coisas a essa luz - murmurou.
-Mas acontece - continuou Holmes - que Lady Eva não é uma mulher rica. Garanto-lhe que duas mil libras esgotariam por completo os seus recursos e a soma que o senhor pede está absolutamente fora do seu alcance. Peço-lhe, assim, que modere as suas exigências e que devolva as cartas pelo preço que referi e que é, garanto-lhe, o mais elevado que poderá obter.
O sorriso de Milverton alargou-se e os seus olhos brilharam divertidos.
- Estou ciente de que aquilo que diz acerca dos recursos financeiros da senhora é verdade - disse. - Mas tem de admitir que a ocasião do casamento de uma senhora é uma altura extremamente adequada para os seus amigos e parentes fazerem um esforço a seu favor. Podem hesitar quanto a um presente de casamento adequado. Eu posso assegurar-lhes que este pequeno molho de cartas lhe dará mais alegria que todos os candelabros e pratos de porcelana de Londres.
