Estes meses de trabalho conjunto não tinham sido tão pobres em acontecimentos como ele afirmava, pois verifico, ao folhear os meus apontamentos, que este período inclui o caso dos documentos do ex-presidente Murillo e também o terrível caso do navio a vapor holandês Friesland que quase nos ia custando a vida a ambos. A sua natureza fria e orgulhosa era, no entanto, sempre avessa a qualquer coisa sob a forma de aplauso público e forçava-me, em termos extremamente rígidos, a não dizer uma palavra sobre si próprio, sobre o seus métodos ou sobre os seus êxitos - proibição essa que, como já expliquei, só agora me foi levantada.
O Sr. Sherlock Holmes estava recostado na sua cadeira, no seguimento do seu controverso protesto, e desdobrava o jornal da manhã com gestos calmos quando a nossa atenção foi atraída pelo som insistente da campainha da porta, seguido imediatamente de pancadas, como se alguém estivesse a bater com os punhos na porta da rua. Quanto esta se abriu, ouvimos alguém entrar tumultuosamente no hall e passos apressados a subir as escadas. Instantes depois, um jovem nervosíssimo e com um olhar tresloucado, com o vestuário descomposto e terrivelmente ofegante, irrompeu na sala. Olhou primeiro para um, depois para o outro e, perante o nosso olhar inquisitivo, tomou consciência da necessidade de pedir desculpa pela sua entrada tão pouco cerimoniosa.
- Desculpe, Sr. Holmes - exclamou. - Não me deve censurar. Estou quase louco. Sou o desgraçado John Hector McFarlane.
Fez esta declaração como se apenas o seu nome bastasse para explicar quer a sua visita como o seu comportamento, e eu pude observar, pelo rosto impassível do meu companheiro, que isso não significava mais para ele do que significava para mim.