O Regresso de Sherlock Holmes - Cap. 12: A Aventura de Abbey Grange Pág. 328 / 363

Um dia, encontrei, numa estrada do campo, Theresa Wright, a sua velha criada. Contou-me tudo acerca dela, acerca dele, acerca de tudo. Digo-vos que quase enlouqueci. Aquele bêbedo, ousar levantar-lhe a mão, a ela, cujas botas não sou digno de lamber! Voltei a encontrar-me com Theresa. Depois, encontrei-me com Mary... e voltei a encontrar-me com ela. Depois ela recusou-se a ver-me mais. Mas, no outro dia, recebi a notícia de que embarcaria na semana seguinte e decidi que tinha de a ver mais uma vez antes de partir. Theresa foi sempre minha amiga, pois amava Mary e odiava o vilão quase tanto como eu próprio. Foi ela quem me ensinou quais eram os hábitos da casa. Mary costumava ficar a ler na sua saleta no andar de baixo. Ontem à noite fui lá e bati ao de leve na janela. Primeiro, ela não me queria abrir a janela, mas sei que lá no fundo me ama e não me deixaria ao relento numa noite fria como aquela. Murmurou-me que fosse até à janela grande da frente e encontrei-a aberta, podendo assim entrar para a sala de Jantar. Mais uma vez ouvi da sua própria boca coisas que me fizeram o sangue ferver, e mais uma vez amaldiçoei o bruto que maltratava a mulher que eu amava. Bom, meus senhores, estava eu ali com ela junto à janela, na maior das inocências, e Deus é minha testemunha, quando ele irrompeu na sala como um louco chamou-lhe os piores nomes que um homem pode chamar a uma mulher e bate-lhe na cara com o pau que trazia na mão. Eu tinha agarrado no atiçador e a luta entre ambos foi de igual para igual. Veja aqui, no meu braço, onde ele me bateu primeiro. Depois, foi a minha vez e eu bati-lhe como se ele fosse uma abóbora podre. Pensa que o lamentei? Eu não! Era a vida dele ou a minha mas, mais que isso, era a vida dele ou a dela, pois como é que eu a podia deixar nas mãos daquele louco? Foi assim que o matei.




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