A Utopia - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 10 / 133

toda a cidade, preparava-me para voltar à hospedaria quando reparei na presença de Pedro Ciles, que falava com um estrangeiro, homem de certa idade, rosto queimado pelo sol, barba comprida e capa despreocupadamente lançada pelos ombros. Tudo nele me indicava um marinheiro. Porém, Pedro, ao ver-me, aproximou-se e cumprimentou-me. Quando lhe ia a responder, interrompeu-me e, apontando o homem com quem estivera a falar, disse:

- Vedes aquele homem? Ia agora mesmo a vossa casa para vo-lo apresentar.

- Pois será bem recebido, já que sois vós que o trazeis.

- Se conhecêsseis - retorquiu Pedro -, recebê-lo-íeis por si próprio, pois não há na terra homem algum capaz de, como ele, vos contar pormenores de povos e regiões tão estranhas e tão longínquas. E bem sei como vós apreciais tais notícias.

- Então não me enganei - disse-lhe -, pois logo à primeira vista percebi que se tratava de um marinheiro.

- Não, aí é que vos enganastes. Já navegou, na verdade, mas não como o marinheiro Palinuro. Antes como o sábio e prudente Ulisses, ou como o grande filósofo Platio. Rafael Hitlodeu, pois este é o seu nome, conhece bem o latim, e o grego na perfeição. Como se dedicou predominantemente ao estudo da filosofia, aprofundou por isso o seu conhecimento do grego





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